[ Pobierz całość w formacie PDF ]
nos quais importam e exportam suas mercadorias, garantem-nas uns aos
outros, prometendo defendê-las a mão armada. Mas não têm, quanto a esses
objetos, nenhum magistrado que lhes seja comum. Cada um desses povos tem
os seus em seu próprio território. Eles não se preocupam com o que os outros
são, nem com o que fazem, se são injustos ou corrompidos como particulares,
só fazendo questão da garantia que ambos os povos se deram mutuamente de
não se lesarem.
Aqueles, pelo contrário, que se propõem dar aos Estados uma boa
constituição prestam atenção principalmente nas virtudes e nos vícios que
interessam à sociedade civil, e não há nenhuma dúvida de que a verdadeira
Cidade (a que não o é somente de nome) deve estimar acima de tudo a virtude.
Sem isso, não será mais do que uma liga ou associação de armas, diferindo
das outras ligas apenas pelo lugar, isto é, pela circunstância indiferente da
proximidade ou do afastamento respectivo dos membros. Sua lei não é senão
uma simples convençâo de garantia, capaz, diz o sofista Licefron, de mantê-los
no dever recíproco, mas incapaz de torná-los bons e honestos cidadãos.
Para tornar isto mais claro, suponhamos que aproximamos os lugares e que
as cidades de Megara e Corinto se toquem; esta proximidade não fará com que
os dois Estados se confundam, mesmo que se acertassem casamentos entre
uma e outra cidade, apesar de este ser um dos laços mais íntimos para a
comunicação mútua.
Suponhamos, até, alguns homens: um carpinteiro, outro lavrador, outro
sapateiro, um quarto de alguma outra profissão. Suponhamos, se se quiser,
dez mil deles, residindo separadamente, mas não a uma distância tão grande
que não se possam comunicar. Eles fizeram um pacto de não-agressão no que
toca a seus comércios e até prometeram tomar armas para sua mútua defesa,
mas não têm outra comunicação a não ser o comércio e seus tratados. Mais
uma vez, esta não será uma sociedade civil. Por quê, então? Nesta hipótese,
não se dirá que estejam afastados demais para se comunicarem.
Aproximando-se assim, a casa de cada um deles assumiria o papel de cidade
e eles se prestariam, graças à sua confederação, ajuda contra as agressões
injustas. No entanto, se não tivessem nessa aproximação uma comunicação
mais importante do que a que têm quando separados, esta ainda não seria
exatamente uma Cidade ou uma sociedade civil. A Cidade, portanto, não é
precisamente uma comunidade de lugar, nem foi instituída simplesmente para
se defender contra as injustiças de outrem ou para estabelecer comércio. Tudo
isso deve existir antes da formação do Estado, mas não basta para constituí-lo.
A Cidade é uma sociedade estabelecida, com casas e famílias, para viver
bem, isto é, para se levar uma vida perfeita e que se baste a si mesma. Ora, isto
não pode acontecer senão pela proximidade de habitação e pelos casamentos.
Foi para o mesmo fim que se instituíram nas cidades as sociedades
particulares, as corporações religiosas e profanas e todos os outros laços,
afinidades ou maneiras de viver uns com os outros, obra da amizade, assim
como a própria amizade é o efeito de uma escolha recíproca. O fim da
sociedade civil é, portanto, viver bem; todas as suas instituições não são senão
meios para isso, e a própria Cidade é apenas uma grande comunidade de
famílias e de aldeias em que a vida encontra todos estes meios de perfeição e
de suficiência. É isto o que chamamos uma vida feliz e honesta. A sociedade
civil é, pois, menos uma sociedade de vida comum do que uma sociedade de
honra e de virtude.
As Condições da Felicidade Particular
Cremos ter estabelecido suficientemente em outro lugar em que consiste a
felicidade da vida". Contentar-nos-emos aqui em fazer a aplicação de nossos
princípios.
Ninguém contestará a divisão, habitual entre os filósofos, dos bens em três
classes: os da alma, os do corpo e os exteriores. Todos estes bens devem ser
encontrados junto às pessoas felizes.
Jamais se contará entre elas um homem que não tem coragem, nem
temperança, nem justiça, nem prudência; quem tem medo até do vôo das
moscas no ar; quem se entrega a todos os excessos da bebida e da comida;
quem, pelo mais vil interesse, mataria seus melhores amigos; quem demonstra
ter tão pouca razão quanto as crianças e os furiosos.
Mas, embora estejamos de acordo sobre isso, diferimos quanto ao mais e
quanto ao menos. A maioria, pensando que lhes basta ter um pouco de virtude,
deseja ultrapassar infinitamente os outros em riqueza, em poder, em glória e
outros que tais. Sobre isto, é fácil saber o que pensar: basta consultar a
experiência. Todos vemos que não é pelos bens exteriores que se adquirem e
conservam as virtudes, mas sim que é pelos talentos e virtudes que se adquirem
e conservam os bens exteriores e que, quer se faça consistir a felicidade no
prazer ou na virtude, ou em ambos, os que têm inteligência e costumes
excelentes a alcançam mais facilmente com uma fortuna medíocre do que os
que têm mais do que o necessário e carecem dos outros bens.
Por pouco que atentemos a isto, a razão basta para nos convencer. Os bens
exteriores são apenas instrumentos úteis, conformes a seu fim, mas
semelhantes a qualquer outro instrumento, cujo excesso necessariamente é
nocivo ou, pelo menos, inútil a quem os manipula. Os bens da alma, pelo
contrário, não são apenas honestos, mas também úteis, e quanto mais
excederem a medida comum, mais terão utilidade.
Em geral, as melhores disposições e maneiras de ser seguem entre si as
mesmas proporções e desproporções que seus sujeitos; se, portanto, a alma,
por sua natureza e relativamente a nós, tem um valor muito diferente do corpo e
dos bens, seus bons costumes ultrapassam igualmente os dessas outras
substâncias. Tais bens só são desejáveis por ela, e todo homem os deseja para
a alma, e não a alma para eles. Consideremos, pois, como certo que a cada um
cabe uma felicidade proporcional à virtude e à prudência que tiver, e na medida
[ Pobierz całość w formacie PDF ]