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cordará, faz alusão a uma conduta pedante.
Cheia de si. De autossuficiência. Pois bem.
Essas associações nos ajudarão a entender
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melhor essa ruptura entre a moral cristã e a
moral aristocrática.
O fundamento dessa moral aristocrática
encontra-se numa certa concepção de
natureza. Na vida dos demais entes naturais.
Ou seja, a conduta que é devida decorre da
natureza de ser como é. Existe, portanto, um
alinhamento, uma coerência entre a ação hu-
mana e a vida do resto da natureza. A partir
deste fundamento, identifica-se na natureza
uma hierarquia. Uma hierarquia natural
entre os seres. Isto é, uns superiores a out-
ros. É claro que você leitor estará se
perguntando:
Mas, como assim, superiores?
Ora, se o universo que constituímos é cós-
mico e ordenado, e cada um dos seres que
dele participa tem uma finalidade específica,
essa superioridade decorre da maior ou men-
or excelência com que esses seres desempen-
ham suas atividades com vistas à finalidade
que lhes corresponde.
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Assim, um olho bom ou virtuoso é um
olho que enxerga bem. Funciona de forma a
alcançar satisfatoriamente a sua finalidade.
Da mesma maneira haverá cavalos mais ou
menos ágeis para o deslocamento, vacas com
maior ou menor capacidade de produção
leiteira etc. Isto porque, há olhos que não
enxergam ou muito pouco , cavalos que
não se deslocam ou muito vagarosamente
, vacas que não produzem leite ou muito
aquém do que se poderia esperar. Espero
que tenha entendido, caro leitor, de que su-
perioridade estamos falando. Condição da
concepção hierárquica do universo.
Ora, se é assim para todos os seres da
natureza, nada justifica a exclusão do
homem. Assim, há pessoas melhores do que
outras. Mais talentosas do que outras. Mais
competentes em buscar suas finalidades.
Uns são mais fortes que outros. Uns são mais
ágeis do que outros. Uns são mais loquazes
do que outros. Ora, eis uma constatação
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fática com a qual todos concordamos.
Suponho.
Assim, no mundo social em que vivemos,
na polis de que fazemos parte, uns são su-
periores a outros. Perceba que essa superior-
idade, de fundamento natural, deve estar no
centro da reflexão sobre a vida boa. Porque
para a moral aristocrática, as pretensões
para a vida devem considerar, antes de tudo,
os talentos de que dispomos, desde o nasci-
mento, para vivê-la.
Da mesma forma, a moral aristocrática
propõe que toda ordem jurídica, política, so-
cial e moral decorra desta hierarquia, isto é,
desta desigualdade e superioridade de uns
sobre outros. Assim, a relação entre duas
pessoas desigualmente talentosas e, port-
anto, distintamente virtuosas é uma relação
de superioridade. Que se objetiva em mando
e servidão.
Decorre, naturalmente, do que expusemos
que as pessoas são desigualmente dignas, do
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ponto de vista moral, em função de talentos
ou dons naturais com os quais nasceram e
que nada fizeram para obter. Desta forma, as
regras jurídicas devem refletir essa
desigualdade, consagrando-a, como princí-
pio jurídico, nas mais diversas situações par-
ticulares de antagonismo.
Não cabe, portanto, ao Direito promover
igualdade entre pessoas desiguais. Pelo con-
trário. Deve fazer da superioridade um estat-
uto. Em outras palavras: a desigualdade da
natureza deve encontrar correspondência
perfeita na desigualdade dos direitos de cada
um. Por isso, a escravidão era entendida
como justa. E as leis garantiam as condições
de uma atualização dos talentos desigual-
mente distribuídos. Desta forma, jamais se
legislaria para corrigir a natureza. E sim para
confirmá-la.
No que concerne a política de formação
do cidadão, os esforços devem ser consagra-
dos para aperfeiçoar os dignos de
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aperfeiçoamento. E, jamais gastar dinheiro
com quem, pelas aptidões naturais, não est-
ivesse à altura. Seria descabido, para esta
concepção aristocrática de cidade, qualquer
investimento no esporte paraolímpico.
Da mesma forma, a cidade justa, nessa
perspectiva grega, é a que melhor faz da hier-
arquia social um espelho da hierarquia nat-
ural. E a legitimidade para o exercício do
poder político é inseparável da excelência
pessoal. A cidade justa deve ser governada
por quem já é superior na hierarquia natural
dos seres. Os filósofos no alto, os guerreiros
no meio e os artesãos em baixo. Corresponde
à superioridade da razão, no alto, em relação
ao peito dos guerreiros e o baixo ventre dos
artesãos. Neste sentido, a virtude é uma
questão de talento. De disposição natural. De
dons naturais.
Perceba, caro leitor, a distância desta
moral aristocrática para a moral que é a
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